Características Gerais

Artrópodes (filo Arthropoda) são invertebrados de corpo segmentado, revestidos por um exoesqueleto quitinoso e dotados de apêndices articulados, características que viabilizam sua incrível diversidade e sucesso adaptativo. Possuem sistemas fisiológicos especializados (digestório completo, diferentes tipos de respiração, circulação aberta e sistema nervoso ventral), crescem por meio de mudas periódicas e exibem variados modos de reprodução.

Deste filo fazem parte os subfilos Hexapoda (insetos), Chelicerata (aracnídeos), Crustacea (crustáceos) e Myriapoda (miriápodes). Com mais de um milhão de espécies descritas, representam aproximadamente 80% de todas as espécies conhecidas, ocupam quase todos os habitats do planeta e exercem papéis essenciais nos ecossistemas, de predadores a polinizadores.

Os artrópodes desempenham papéis fundamentais nos ecossistemas: são polinizadores, decompositores, predadores e presas. Na agricultura, atuam tanto como inimigos naturais de pragas quanto como vetores de doenças. Seu estudo é crucial para a biotecnologia, saúde pública e conservação ambiental.

Morfologia e Estrutura Corporal

Exoesqueleto

Os artrópodes são invertebrados que possuem um exoesqueleto rígido e resistente, conhecido como cutícula, que recobre externamente todo o corpo. Esse exoesqueleto é formado principalmente por quitina — um polissacarídeo estrutural — associada a proteínas específicas, como as esclerotinas, que conferem dureza e impermeabilidade ao tegumento. Em algumas espécies, como os crustáceos, há também a presença de carbonato de cálcio, o que torna a estrutura ainda mais resistente.

A cutícula é composta por três camadas principais:

  • Epicutícula – camada externa, fina, cerosa e rica em lipídios, responsável por tornar a superfície impermeável e reduzir a perda de água.
  • Exocutícula – camada intermediária, endurecida, que proporciona rigidez e proteção mecânica.
  • Endocutícula – camada interna, espessa e mais flexível, que contribui para a sustentação do corpo.
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Como o exoesqueleto não cresce junto com o animal, ele precisa ser substituído periodicamente por meio de um processo chamado ecdise, ou muda. Além de oferecer proteção contra predadores, choques e desidratação, o exoesqueleto também serve como ponto de fixação para os músculos internos. Esse arranjo é conhecido como organização músculo-esquelética invertida, pois os músculos se inserem na face interna de uma estrutura rígida externa — o oposto do que ocorre nos vertebrados.

Segmentação e Tagmatização

Os artrópodes possuem um corpo segmentado, conhecido como metameria, formado por vários segmentos repetidos chamados metâmeros. Cada metâmero pode conter estruturas semelhantes, mas ao longo da evolução, muitos desses segmentos passaram por modificações, resultando em fusão e especialização — processo chamado de tagmatização.

A tagmatização é o processo evolutivo em que os segmentos do corpo dos artrópodes se fundem e se especializam em regiões distintas, chamadas tagmas. Isso permite que diferentes partes do corpo sejam adaptadas para funções específicas, como alimentação, locomoção, reprodução, defesa e percepção sensorial. Esse processo aumenta a eficiência do animal, otimizando suas funções vitais.

Exemplos de tagmas nos subfilos principais:

  • Insetos: a estrutura corporal é dividida em três tagmas principais: cabeça (responsável por funções sensoriais e ingestão), tórax (especializado em locomoção, com três pares de pernas e, em muitos casos, asas) e abdômen (dedicado à digestão e reprodução).
  • Aracnídeos: apresentam dois tagmas principais: prossoma (ou cefalotórax) e opistossoma, sendo que o abdômen não possui apêndices locomotores.
  • Crustáceos: cefalotórax (protegido por carapaça) e abdômen flexível, com nadadeiras e órgãos reprodutivos.
  • Miriápodes: composto por uma cabeça (onde estão as antenas e peças bucais) e um tronco segmentado, com um ou dois pares de pernas por segmento.
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Apêndices Articulados

Uma das características mais marcantes dos artrópodes é a presença de apêndices articulados, que deram nome ao filo (do grego arthron = articulação e podos = pé). Esses apêndices são estruturas móveis ligadas aos segmentos corporais, compostas por peças endurecidas unidas por membranas flexíveis, permitindo grande mobilidade e especialização.

Os apêndices articulados são extremamente versáteis e se especializam conforme a função e o grupo de artrópode. Eles desempenham funções essenciais para a sobrevivência e adaptação dos artrópodes em seus respectivos habitats:

  • Antenas: Encontradas em insetos, crustáceos e miriápodes as antenas são apêndices sensoriais usados para detectar tato, odor e umidade, além de ajudarem na percepção do ambiente.
  • Antênulas: Específicas dos crustáceos, as antênulas são antenas menores que desempenham funções sensoriais semelhantes às das antenas, mas com maior especialização em detectar estímulos no ambiente aquático.
  • Gnatopódios: Presentes em trilobites, crustáceos e aracnídeos, os gnatopódios são apêndices adaptados para manipulação e captura de presas, além de exercerem outras funções, dependendo do grupo.
  • Fieiras: Encontradas nas aranhas, as fieiras são apêndices especializados para a produção de teias, sendo essenciais tanto para capturar presas quanto para a construção de abrigos.
  • Pentes: Localizados em escorpiões, os pentes são apêndices especializados para detectar vibrações ou para a manipulação de presas.
  • Labro: Presente em miriápodes e insetos, o labro é uma estrutura bucal usada para a ingestão e manipulação de alimentos.
  • Mandíbulas: Comuns em crustáceos, miriápodes e insetos, as mandíbulas são apêndices poderosos usados para cortar, triturar e processar alimentos.
  • Maxilas: Também presentes em crustáceos, miriápodes e insetos, as maxilas ajudam na manipulação e trituração do alimento, frequentemente auxiliando as mandíbulas.
  • Maxilípedes: Apêndices especializados dos crustáceos, que funcionam como pés modificados e estão envolvidos na alimentação e na locomoção.
  • Maxílulas: Apêndices dos crustáceos, localizados próximos à boca, utilizados para manipulação de alimentos ou para a captura de presas.
  • Ovígeros: Apêndices encontrados nos picnogonídeos (aranhas-marinha), usados para segurar os ovos durante a reprodução.
  • Patas: Encontradas em todos os artrópodes, as patas locomotoras são adaptadas para uma variedade de funções, como andar, nadar, escavar ou saltar, dependendo da espécie.
  • Pedipalpos: Apêndices típicos dos quelicerados (como aracnídeos), que atuam como ferramentas para captura de presas, manipulação de alimentos e até na reprodução.
  • Pereópodes: Apêndices locomotores dos crustáceos, usados para caminhar, nadar ou capturar presas, dependendo da espécie.
  • Pleópodes: Encontrados em crustáceos, especialmente os aquáticos, os pleópodes são apêndices que servem para a locomoção, especialmente para nadar.
  • Quelíceras: Características dos quelicerados, como aracnídeos, são apêndices modificados em forma de pinças ou estruturas perfurantes, usadas para captura e defesa.
  • Quelíforos: Apêndices encontrados nos picnogonídeos (aranhas-marinha), que têm uma função sensorial e podem auxiliar na captura de presas.
  • Toracópodes: Localizados no tórax dos crustáceos, esses apêndices são adaptados para a locomoção e desempenham um papel importante na interação com o ambiente.
  • Urópodes: Apêndices encontrados na cauda dos crustáceos, especialmente em camarões, e são usados para ajudar na locomoção, especialmente na natação.

Além disso, os apêndices podem ser classificados em birremes (ramificados, como em crustáceos) ou unirremes (não ramificados, como em insetos e aracnídeos). Essa diversidade morfológica e funcional dos apêndices contribui de forma significativa para o sucesso evolutivo e ecológico dos artrópodes, permitindo-lhes se adaptar a uma ampla gama de nichos ecológicos.

Sistemas Fisiológicos

Sistema Digestório

O sistema digestório dos artrópodes é completo, ou seja, possui boca e ânus, o que permite a digestão em etapas e uma absorção mais eficiente dos nutrientes. Ele é adaptado às dietas variadas e aos diferentes estilos de vida dos artrópodes, sendo dividido em três regiões principais:

Estomodeu (anterior): da boca ao estômago. Inclui:

  • Papo: responsável pelo armazenamento de alimentos, encontrado em diversos grupos, como nas formigas e abelhas (insetos), ou em alguns crustáceos que armazenam alimentos temporariamente antes de digeri-los.
  • Moela: estrutura responsável pela trituração do alimento, com placas quitinosas, comum em crustáceos, como os camarões e caranguejos, e também em alguns insetos que necessitam triturar alimentos mais duros.
  • Glândulas salivares: presentes em muitos artrópodes, como insetos e aracnídeos, essas glândulas auxiliam na digestão ao liberar enzimas que iniciam o processo de quebra do alimento.

Mesêntero (médio): região onde ocorre a digestão química e a absorção de nutrientes, essencial para transformar o alimento em substâncias utilizáveis pelo organismo. Esse processo é comum em todos os artrópodes, independentemente do grupo.

Proctodeu (posterior): responsável por reabsorver água, formar as fezes e, em alguns casos, conter estruturas especializadas para aumentar a eficiência da absorção ou excreção:

  • Cecos gástricos: encontrados em artrópodes herbívoros, como em muitos insetos (ex: gafanhotos) e alguns crustáceos, essas estruturas aumentam a área de absorção e ajudam na digestão de compostos complexos, como a celulose das plantas.
  • Túbulos de Malpighi: estruturas excretoras comuns em muitos insetos e aracnídeos, que removem resíduos nitrogenados do sangue e os transferem para o intestino, onde a água é reabsorvida, ajudando na conservação de água no organismo.

Sistema Respiratório

O sistema respiratório dos artrópodes varia conforme o ambiente (aquático ou terrestre) e o subfilo ao qual pertencem, mas, em todos os casos, a respiração é aeróbica, ou seja, ocorre com a utilização de oxigênio. A adaptação do sistema respiratório ao ambiente e à fisiologia de cada grupo de artrópodes é crucial para sua sobrevivência.

Insetos e Miriápodes:

  • Sistema traqueal: a respiração ocorre por meio de um sistema traqueal. Este sistema consiste em uma rede de traqueias e traqueíolas que transportam oxigênio diretamente para as células do corpo, permitindo uma troca gasosa eficiente sem a necessidade de um sistema circulatório para o transporte de gases.
  • Espiráculos: são aberturas situadas na parede do corpo que regulam a entrada de ar. Eles estão conectados às traqueias e controlam a quantidade de oxigênio que entra no sistema respiratório.

Aracnídeos:

  • Pulmões foliáceos: Estruturas especializadas que consistem em câmaras com lamelas finas e altamente vascularizadas, permitindo a troca de gases em ambientes terrestres. Essas estruturas são eficientes para a respiração, especialmente em condições de baixa disponibilidade de oxigênio no ambiente.
  • Traqueias: Presentes também nos aracnídeos, mas menos ramificadas que nos insetos, essas estruturas auxiliam na troca gasosa, mas têm um papel menor em comparação com os pulmões foliáceos. As traqueias ajudam na respiração, mas não são tão desenvolvidas quanto em insetos.

Crustáceos:

  • Brânquias: Estruturas especializadas para a troca gasosa em ambientes aquáticos. As brânquias são finas, vascularizadas e frequentemente associadas a apêndices locomotores, o que facilita o fluxo de água e a troca de oxigênio.
  • Cutícula: Em alguns crustáceos menores, como os copepóides, a troca gasosa também pode ocorrer pela cutícula, especialmente em ambientes com baixa demanda de oxigênio.

Sistema Nervoso

O sistema nervoso dos artrópodes é altamente desenvolvido e adaptado para a coordenação de comportamentos complexos, como a locomoção, alimentação e comunicação entre indivíduos. Ele é composto por um cérebro dorsal, gânglios segmentares e órgãos sensoriais especializados, todos trabalhando juntos para garantir a sobrevivência e a interação com o ambiente.

  • Cérebro dorsal: responsável pelo processamento dos estímulos sensoriais e pela coordenação de comportamentos mais complexos, como movimentos rápidos e respostas a estímulos ambientais. Ele é maior e mais desenvolvido em grupos como insetos, mas está presente em todos os artrópodes, sendo responsável pela integração das informações sensoriais.
  • Gânglio subesofágico: localizado abaixo do cérebro, esse gânglio controla a movimentação das peças bucais, como mandíbulas e maxilas, e também coordena os apêndices cefálicos, como antenas e palpos.
  • Cordão nervoso ventral: composto por gânglios segmentares que se estendem ao longo do corpo, coordenando movimentos locais e comportamentos como o caminhar ou a busca por alimento. Esses gânglios podem atuar independentemente em cada segmento do corpo, garantindo reações rápidas a estímulos locais, um aspecto fundamental para a sobrevivência em todos os artrópodes.

Órgãos Sensoriais: Os artrópodes possuem uma vasta gama de órgãos sensoriais altamente especializados para detectar estímulos do ambiente, essenciais para sua sobrevivência. Esses órgãos variam em estrutura e função, dependendo do grupo e do ambiente em que o artrópode vive:

  • Olhos compostos: formados por omatídeos, são capazes de perceber movimento e luz, oferecendo aos artrópodes uma excelente percepção visual. São comuns em insetos, e também em crustáceos, como camarões e caranguejos, que os utilizam para detectar predadores e presas.
  • Ocelos: olhos simples que detectam mudanças na intensidade da luz. Encontrados em todos os grupos, os ocelos ajudam na orientação e navegação, especialmente em ambientes de pouca luz.
  • Antenas: sensores táteis e químicos altamente desenvolvidos em muitos artrópodes, como insetos, crustáceos e miriápodes. Elas são usadas para detectar substâncias químicas no ambiente, como feromônios, odores e umidade, além de captar estímulos táteis.
  • Palpos: estruturas sensoriais localizadas perto da boca, encontradas todos os grupos. Elas auxiliam na manipulação de alimentos, percepção de estímulos táteis e até mesmo na detecção de substâncias químicas.
  • Setas sensoriais: pelos especializados que detectam pressão, vibrações e mudanças no ambiente. Comuns em muitos grupos de insetos e aracnídeos, essas estruturas são essenciais para detectar a presença de predadores ou presas.

Desenvolvimento e Crescimento

Ecdises (Mudas)

O exoesqueleto quitinoso dos artrópodes, embora ofereça proteção e suporte estrutural, é rígido e inflexível, impedindo o crescimento contínuo do animal. Para contornar essa limitação, os artrópodes realizam um processo fisiológico denominado ecdise (ou muda), no qual descartam periodicamente o exoesqueleto antigo para permitir o crescimento ou mudanças morfológicas. Esse exoesqueleto descartado é denominado exúvia.

O intervalo entre as mudas é chamado de instar, e pode variar conforme a espécie, alimentação, temperatura e fotoperíodo. Durante a ecdise, além do crescimento, pode ocorrer a regeneração de apêndices perdidos e alterações no padrão corporal, como mudanças na cor ou na forma do exoesqueleto.

  • Apolise: A epiderme do artrópode se separa da cutícula antiga, formando um espaço entre a epiderme e a cutícula. Durante essa fase, enzimas são secretadas para degradar a procutícula (camada externa da cutícula).
  • Digestão e formação da nova cutícula: Parte da cutícula antiga é absorvida pelo organismo, enquanto uma nova cutícula é produzida sob a antiga, já se preparando para o crescimento do animal.
  • Ecdise propriamente dita: A pressão interna do corpo faz com que a cutícula antiga se rompa ao longo de linhas de ecdise, permitindo que o artrópode se liberte do exoesqueleto antigo e emerge com a nova cutícula.
  • Esclerotização: Após a ecdise, o novo exoesqueleto, inicialmente mole, endurece através da secreção de compostos como quinonas e outros produtos químicos. Esse processo de esclerotização proporciona a rigidez necessária para o novo exoesqueleto.
Alternativa Texto

Esse processo de troca do exoesqueleto é crucial para o crescimento e a adaptação dos artrópodes ao longo de sua vida. Em crustáceos, por exemplo, a muda pode envolver a troca de carapaças inteiras. Em insetos, é essencial para transições entre estágios do desenvolvimento. Já em aracnídeos e miriápodes, a muda também está associada ao crescimento e, em alguns casos, à regeneração de patas ou antenas perdidas.

Classificação Taxonômica

Abaixo está apresentada a classificação taxonômica formal dos Artrópodes, com base nos principais níveis hierárquicos:

Classificação Taxonômica Geral

  • Domínio
    • Reino
      • Filo
        • Classe
          • Ordem
            • Família
              • Gênero
                • Espécie

Classificação Taxonômica Detalhada

  • Domínio
    • Reino
      • Subreino
        • Infra-reino
          • Filo
            • Subfilo
              • Infrafilo
                • Classe
                  • Subclasse
                    • Infraclasse
                      • Ordem
                        • Subordem
                          • Infraordem
                            • Superfamília
                              • Família
                                • Subfamília
                                  • Tribo
                                    • Subtribo
                                      • Gênero
                                        • Subgênero
                                          • Espécie
                                            • Subespécie
                                              • Variedade
                                                • Subvariedade
                                                  • Forma
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